quarta-feira, 17 de março de 2010

Maneiras de dizer as coisas

Uma sábia e conhecida anedota árabe diz que, certa feita, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho.

- Que desgraça, senhor! Exclamou o adivinho. Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.

- Mas que insolente - gritou o sultão, enfurecido. Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui!

Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem açoites. Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho.

Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:

- Excelso senhor! Grande felicidade vos esta reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes.

A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:

- Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem açoites e a você com cem moedas de ouro.

- Lembra-te meu amigo - respondeu o adivinho - que tudo depende da maneira de dizer...

Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra.

Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não resta duvida. Mas a forma como ela é comunicada é que tem provocado, em alguns casos, grandes problemas. A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa. Se a lançarmos no rosto de alguém pode ferir, provocando dor e revolta. Mas se a envolvemos em delicada embalagem e a oferecemos com ternura, certamente será aceita com facilidade.

A embalagem, nesse caso, é a indulgência, o carinho, a compreensão e, acima de tudo, a vontade sincera de ajudar a pessoa a quem nos dirigimos.

Ademais, será sábio de nossa parte, antes de dizer aos outros o que julgamos ser uma verdade, dize-la a nós mesmos diante do espelho.

E, conforme seja a nossa reação, podemos seguir em frente ou deixar de lado o nosso intento. Importante mesmo, é ter sempre em mente que o que fará diferença é a maneira de dizer as coisas..

Nasrudin visita a Índia

O célebre e contraditório personagem sufi Mulla Nasrudin visitou a Índia. Chegou a Calcutá e começou a passear por uma de suas movimentadas ruas. De repente viu um homem que estava vendendo o que Nasrudin acreditou que eram doces, ainda que na realidade fossem chiles apimentados. Nasrudin era muito guloso e comprou uma grande quantidade dos supostos doces, dispondo-se a dar-se um grande banquete. Estava muito contente, se sentou em um parque e começou a comer chiles a dentadas. Logo que mordeu o primeiro dos chiles sentiu fogo no paladar. Eram tão apimentados aqueles "doces" que ficou com a ponta do nariz vermelha e começou a soltar lágrimas até os pés. Não obstante, Nasrudin continuava levando os chiles à boca sem parar. Espirrava, chorava, fazia caretas de mal estar, mas seguia devorando os chiles. Assombrado, um passante se aproximou e disse-lhe:

-Amigo, não sabe que os chiles só se comem em pequenas quantidades?

Quase sem poder falar, Nasrudin comentou:

-Bom homem, creia-me, eu pensava que estava comprando doces.

Mas Nasrudin seguia comendo chiles. O passante disse:

-Bom, está bem, mas agora já sabes que não são doces. Por que segues comendo-os?

Entre tosses e soluços, Nasrudin disse:

-Já que investi neles meu dinheiro, não vou jogá-los fora.

O Grande Mestre disse: Não sejas como Nasrudin. Toma o melhor para tua evolução interior e joga fora o desnecessário ou pernicioso, mesmo que tenhas investido muito dinheiro ou tempo neles.

O bem mais precioso

Há muitos e muitos anos, um rapaz e uma moça se apaixonaram e resolveram se casar. Quase não tinham dinheiro, mas não ligavam para isso. A confiança mútua gerava a fé num belo futuro, desde que tivessem um ao outro. Assim, marcaram a data para se unir em corpo e alma.


Antes do casamento, a moça fez um pedido ao noivo:

- Não posso nem imaginar que um dia a gente possa se separar. Mas pode ser que com o tempo a gente se canse um do outro, ou que você se aborreça e me mande de volta a meus pais. Prometa que, se algum dia isso acontecer, me deixará levar comigo o bem mais precioso que eu tiver então.

O noivo riu, achando uma bobagem o que ela dizia, mas a moça não ficou satisfeita enquanto ele não fez a promessa por escrito e devidamente assinada. Casaram-se. Decididos a melhorar de vida, trabalharam arduamente e foram recompensados. Cada novo sucesso os fazia mais determinados a sair da pobreza, e trabalhavam ainda mais. O tempo passou e o casal prosperou. Conquistaram uma situação estável, cada vez mais confortável, e finalmente ficaram ricos. Mudaram-se para uma ampla casa, fizeram novos amigos e se cercaram dos prazeres da riqueza. Mas dedicados em tempo integral à prosperidade financeira, aprenderam a pensar mais nas coisas do que um no outro. Discutiam sobre o que comprar, quanto gastar, como aumentar o patrimônio.

Certo dia, enquanto preparavam uma festa para amigos importantes, discutiram sobre uma bobagem qualquer - o sabor do molho, os lugares à mesa, ou coisa assim. Começaram a levantar a voz, a gritar, e chegaram às inevitáveis acusações.

- Você não liga para mim! - gritou o marido. - Só pensa em você, em roupas e jóias. Pegue o que achar mais precioso, como prometi, e volte para a casa dos seus pais. Não há motivo para continuarmos juntos.

A mulher empalideceu e encarou-o com um olhar magoado, como se acabasse de descobrir uma coisa insuspeitada.

- Muito bem - disse ela baixinho - quero mesmo ir embora. Mas devemos ficar juntos esta noite e receber nossos amigos, para salvar as aparências.

A noite chegou. Começou a festa, com todo o luxo e fartura que a riqueza permitia. Alta madrugada, os convidados se retiraram e o marido adormeceu. Ela então fez com que o levassem à casa dos pais dela e o pusessem na cama.

Quando ele acordou na manhã seguinte, não entendeu o que tinha acontecido. Não sabia onde estava e, quando sentou-se na cama para olhar em volta , a mulher acercou-se da cama.

- Querido marido - disse ela - você prometeu que se algum dia me mandasse embora eu poderia levar o bem mais precioso que tivesse no momento. Você é o que tenho de mais precioso. Quero você mais do que tudo na vida, e só a morte poderá nos separar.

Nesse momento, ele viu o quanto ambos tinham sido egoístas. Tomou a esposa nos braços e beijaram-se ternamente. No mesmo dia voltaram para casa, mais apaixonados do que nunca.

O Carneirinho Perdido

A mãe ovelha amava seu carneirinho da mesma forma que sua mãe amava você.

Era um filhote pequenino, de perninhas finas e com muito pouca lã ainda. Passava a noite no ovil, dormindo aconchegado no calor da lã de sua mãe.

Passava o dia mordiscando a relva, bebendo a água do córrego e brincando na pradaria.

- Cuide do meu carneirinho - a mãe ovelha tentou dizer ao pastor do rebanho. - Ele é muito pequenininho e frágil para cuidar de si.

O pastor compreendeu, e tratou de observar com atenção o carneirinho, embora houvesse cem ovelhas no rebanho.

Tratava-se de um bom pastor, ou não teria conseguido cuidar de todos. Todas as manhãs abria o portão do ovil e o rebanho saía. Ele então conduzia os animais a um pasto verde na encosta de um morro e ali passava o dia tomando conta. Havia lobos nas montanhas das redondezas, à espera de uma chance para pegar os carneirinhos. O pastor mantinha os lobos afastados.

Quando o sol começava a descer por trás do morro, o pastor conduzia o rebanho de volta para o ovil. E antes de fechar o portão, sempre contava suas ovelhas para ver se havia cem.

As tempestades em lugares altos assim são muito terríveis. Um dia houve uma tempestade, com vento, chuva fria e raios no céu. A ovelha mãe ficou assustada demais, sem saber para onde ir. Seguiu as outras ovelhas, que se abalroavam e quase esmagavam ao descer correndo a encosta. Mas o pastor as conduziu com tranqüilidade, indicando o caminho com o cajado. Chamava cada um pelo nome que lhes dera. Ia na frente para evitar que a tormenta as espantasse de volta antes de se sentirem seguras, pois já se avistava o ovil.

Ao atravessarem o portão, uma por uma, ele as contou.

Só havia noventa e nove.

Então o pastor olhou nos olhos suplicantes da mãe ovelha. Ela estava tentando dizer que seu filhote se perdera na tempestade.

Se não fosse um bom pastor, ele poderia pensar que um carneirinho daqueles não seria uma grande perda. Mas pensou apenas no frio que estaria sentindo o bichinho com tão pouca lã, no meio da tempestade. E lembrou-se de que, além da tormenta, escutara o uivo dos lobos.

Pois o bom pastor saiu no vento e na chuva para encontrar o carneirinho.

Já estava tão escuro que ele mal podia enxergar. O vento estava frio, a chuva encharcava seu manto e as pedras cortavam-lhe os pés. Qualquer outro pastor teria desistido. Mas o bom pastor via, através da tempestade, os olhos sofridos da ovelha mãe do carneirinho. E prosseguiu até encontrar o carneirinho perdido, deitado, com medo e com frio, à beira da estrada.

O pastor pegou o carneirinho nos braços. O animalzinho estava com frio para voltar andando. Levou-o para casa no colo, com o mesmo cuidado que sua mãe tinha por você quando bebê. Ficou muito feliz ao chegar ao ovil e poder devolvê-lo à mãe. Convidou os vizinhos a virem partilhar de sua alegria, pois nem um carneiro se quer havia se extraviado do rebanho.

Os vizinhos estranharam um pouco a alegria do pastor.

- Noventa e nove é quase cem - disseram. - Que diferença faria um carneirinho num rebanho tão grande?

O bom pastor sabia. O carneirinho que se perdeu era um dentre os seus, e ele os amava a todos.

O Carvalho e os Juncos

Um grande carvalho foi arrancado do chão pela ventania, e arrastado por forte correnteza. Então dentro da água ele se viu no meio de alguns Juncos, e assim lhes falou:

- Gostaria de ser como vocês, que de tão esguios e frágeis, não são completamente afetados por estes fortes ventos.

Eles responderam:

- Você lutou e competiu com o vento, e consequentemente foi destruído; enquanto que nós ao contrário nos curvamos diante do menor sopro de ar, e por esta razão permanecemos inteiros, e a salvo.

Curve-se para poder vencer.

O Combate

O planeta Zilrus é habitado pelos arelinos, e fica a dois milhões de anos-luz do sistema solar. Seu povo é guerreiro e tem verdadeiro orgulho de suas conquistas espaciais. Exploram alguns planetas menores, possuindo tecnologia que lhes permitem construir andróides.

Esses robôs, os andróides, são altamente especializados e possuem sentimentos como raiva, tristeza, medo e insegurança. Apresentam um corpo semelhante ao de um gorila, sabem falar e são muito ágeis.

A maior diversão dos arelinos é assistir às lutas entre os robôs.

Existem muito respeito e amizade entre os comandantes espaciais, exceto entre Espokes, chefe da frota estelar azul, e Aldum Sinis, importante estrategista nos combates galácticos.

Cada um tem características de combate bastante peculiares. Espokes utiliza potentes armas nucleares, enquanto Aldum Sinis prefere o uso da energia mental.

As desavenças entre dois chegaram a tal ponto que resolveram enfrentar-se numa luta de robôs. Cada um teria o direito de comandar um andróide de sua escolha, vencendo o confronto aquele cujo robô derrotasse o do adversário.

Todas as atenções do planeta Zilrus voltaram-se então para o grande combate.

De acordo com as regras acertadas entre ambos, na data estipulada cada um traria um robô da Guarda especial, tendo direito a dar-lhe três armamentos especiais e orientações de combate.

Finalmente chega o grande dia. Espokes, que escolhera um enorme andróide, fornece-lhe um escudo protetor, um laser com seis tiros e uma espada de elétrons, passando em seguida a instruí-lo enérgica e gesticuladamente. Aldum Sinis, por sua vez, apenas diz alguma coisa rapidamente ao ouvido do seu comandado e ficam aguardando o início da luta.

O povo arelino presente estranhou muito o fato de um dos robôs estar totalmente desarmado, ficando a impressão que sofreria um tremendo massacre por parte do andróide de Espokes.

Que combate! Um dos lutadores disparando tiros, desferindo golpes de espada, enquanto o outro esquivava-se, saltando e se utilizando dos próprios objetos encontrados na arena de combate para a sua defesa. O tempo foi passando e em poucos minutos a munição do laser terminou, a espada de elétrons descarregou e o escudo protetor perdeu sua trava de segurança. Assim, em igualdade de condições, os dois adversários iniciaram então uma luta corporal.

Embora sem os apetrechos, o robô de Espokes era maior e mais forte do que o outro. O estádio espacial, totalmente lotado, assistia atentamente ao combate que, para surpresa de muitos, terminou com a vitória do andróide menor.

Inconformado, Espokes cumprimentou Aldum Sinis e perguntou-lhe: "O que você disse ao ouvido do seu robô, antes do começo da luta?" Ao que Aldum respondeu: "Este é o segredo da vitória", e sorrindo olhou para o seu robô.

Aquele andróide que acabara de vencer a luta tinha armazenado em sua memória as palavras sussurradas pelo seu comandante: "Vá e lute, eu confio em você!".

O Falso Mestre

Era um renomado mestre; um desses mestres que correm atrás da fama e gostam de acumular mais e mais discípulos. Em uma grande planície, reuniu centenas de discípulos e seguidores. Levantou-se, impostou a voz e disse:
- Meus amados, escutai a voz de quem sabe.
Fez-se um grande silêncio. Poder-se-ia escutar o vôo rápido de um mosquito.
- Nunca deveis relacionar-vos com a mulher de outro; nunca.
Jamais deveis beber álcool e tão pouco comer carne.
Um dos assistentes atreveu-se a perguntar:
- Outro dia, não eras tu que estavas abraçado com a esposa de Jai?
- Sim, era eu -respondeu o mestre.
Então, outro ouvinte perguntou:
- Não vi a ti outro dia ao anoitecer bebendo na taberna?
- Esse era eu -respondeu o mestre.
Um terceiro homem interrogou ao mestre:
- Não eras tu que outro dia comias carne no mercado?
- Efetivamente -afirmou o mestre.
Nesse momento todos os assistentes sentiram-se indignados e
começaram a protestar.
- Então, porque pedes a nós, que façamos o que tu não fazes?
E o falso mestre respondeu:
- Porque eu ensino, mas não pratico.

O GRANDE MESTRE disse: Se não encontras um verdadeiro mestre para seguir, converte a ti mesmo em mestre.
Em última instância, tu és teu discípulo e teu mestre.

O Galo de briga e a Águia

Dois galos estavam, disputando em feroz luta pelo direito de comandar a chácara. Por fim um pôs o outro para correr.

O Galo derrotado afastou-se e foi se recolher num lugar sossegado.

O vencedor, voando até o alto de um muro, bateu as asas e exultante cantou com toda sua força.

Uma Águia que pairava ali perto lançou-se sobre ele, e com um bote certeiro levou-o preso em suas poderosas garras.

O Galo derrotado saiu do seu canto, e daí em diante reinou absoluto livre de disputa.

O Orgulho leva antes à Destruição.

O gnomo jacinto

Em algum ponto da floresta, o pequeno gnomo Jacinto chorava enquanto conversava com o sábio Gnomo-mestre...

— Quando lembro de tudo o que já me aconteceu sinto o chão me faltar. Fico tonto, sabe? Por que será que sofro tanto? Será que, por algum motivo, a Fada da Sorte escolheu caminhos distantes dos meus? Será que todos os contratempos a mim destinados resolveram acontecer de uma só vez? Mestre, já não suporto viver assim...

O Gnomo-mestre, que reunia folhas numa pequena cabaça, olhou para o aprendiz e disse:

— Meu pequeno Jacinto, percebes o que acontece com as lágrimas que derramas?

— Como assim? Senhor, eu não compreendo o que dizes.

Apontando para algumas áreas da mata, o velho e experiente gnomo respondeu:

— Olha com atenção. Por todo o caminho espalham-se flores justamente nos lugares onde tens vertido teu pranto. Tuas lágrimas mágicas têm feito brotar lírios, papoulas e perfumadas alfazemas nos lugares onde caem.

Jacinto olhou ao redor e falou demonstrando admiração e um certo aborrecimento:

— Mas então... quer dizer que o meu destino é sofrer para fazer a floresta se encher de cor e perfume? É preciso que meu coração morra aos poucos para a Natureza se encher de vida? Isso não é justo!

Com toda a tranquilidade, o Gnomo-mestre respondeu:

— Os olhos vêem o que querem ver. O coração sente o que quer sentir. Então é essa a interpretação que fazes? Se o teu sofrer, meu pequeno, faz brotarem as flores mais belas, o que poderia então surgir do teu sorriso luminoso? Se transformas o verde da floresta num tapete multicolorido quando choras, o que poderia acontecer no momento em que espalhasses a alegria? Não será esse o momento de mudar a semente que espalhas? Percebes o poder que tens nas mãos? A dor cumpre o seu papel e tem sua razão de ser. Sim, deve ser vista. Mas os olhos não podem se fixar nela por muito tempo, senão perdem a chance de ver o crescimento que ela própria fez acontecer.

As orelhas do gnomo Jacinto se movimentavam enquanto recebiam as preciosas orientações do sábio, como se não quisessem deixar escapar uma única palavra. Seus olhos, agora mais atentos, notaram que uma luz começava a brilhar em seu peito. Teve vontade de sorrir mas estava difícil, uma vez que sua boca tinha perdido esse hábito. Portanto fez um esforço e logo, logo, seus dentes estavam à mostra. Foi aí que algo incrível aconteceu: quanto mais ele ria mais crescia. Crescia e crescia. Quem jamais poderia imaginar que Jacinto era um gigante? Aquele pequeno gnomo era agora um gigante grandalhão e sorridente. Ele continuou rindo e sua risada ecoava nas montanhas e se transformava em música; música mágica que curava os passarinhos feridos e as plantinhas doentes.

De uma hora para outra a floresta era só brilho e festa.

Jacinto procurou o Gnomo-mestre para agradecer, mas não conseguia mais enxergá-lo. E foi aí então que, fechando os olhos, ouviu uma voz que dizia:

"— Há e sempre haverá uma forma mais doce de viver. O sofrimento, no momento em que é percebido como sofrimento, já está no ponto derradeiro da sua função e precisa ser substituído por uma outra semente. Agradeça às lágrimas do passado e diga-lhes adeus. O momento agora é de focalizar os sorrisos do futuro. Há e sempre haverá uma forma mais doce de viver."

O Leão e o Rato

Um Leão foi acordado por um Rato que passou correndo sobre seu rosto. Com um salto ágil ele o capturou e estava pronto para matá-lo, quando o Rato suplicou: "Se o senhor poupasse minha vida, tenho certeza que poderia um dia retribuir sua bondade."

O Leão deu uma gargalhada de desprêzo e o soltou.

Aconteceu que pouco depois disso o Leão foi capturado por caçadores, que o amarraram com fortes cordas no chão.

O Rato, reconhecendo seu rugido, se aproximou, roeu as cordas, e libertou-o dizendo: "O senhor achou ridícula a idéia de que eu seria capaz de ajudá-lo, nunca esperava receber de mim qualquer compensação pelo seu favor; mas agora sabe que é possivel mesmo a um Rato conceber um favor a um poderoso Leão."

Pequenos amigos podem se revelar grandes aliados

O Mundo Vai se Acabar

Liana estava em seu quarto sozinha, de madrugada, pensando nos seus problemas e inúmeras dúvidas, principalmente em relação ao futuro e ao seu próximo casamento com o namoradinho de infância.

De repente, ela viu surgir na sua frente uma linda mulher, envolta em um halo de luz dourada, como uma aparição angelical, que lhe disse:

- Liana, o mundo vai se acabar em 30 dias. Seja feliz! Você só tem 30 dias para isso. Adeus!

Dizendo isso a mulher dourada lhe entregou um papel onde estava escrito exatamente o que acabara de lhe dizer. E desapareceu.

Liana ficou muito intrigada e adormeceu, mais confusa do que já estava.

Na manhã seguinte, ao acordar, Liana pensou haver sonhado um sonho estranho e não deu muita importância, até o momento em que encontrou um papel escrito em letras douradas, na sua escrivaninha, contendo as frases da aparição noturna.

- Então foi verdade! - pensou.

Contou para todas as pessoas. E ninguém acreditou nela.

- Você deve ter sonhado com isso. E você mesma escreveu. O papel é igual ao do bloco que há em cima da sua escrivaninha. Imagine! O mundo se acabar em 30 dias! Essa é muito boa! - disse sua mãe.

As únicas pessoas que acreditaram nela foram suas amigas, desde os tempos de colégio, Terina e Elisia, também de 20 anos, como ela.

Fizeram, então, uma reunião para decidir o que fazer para serem felizes em 30 dias: - viajar, comprar roupas, objetos, carros; passear, divertir-se ao máximo em festas, boates, discotecas, teatros, cinemas; namorar, visitar amigos, parentes queridos, enfim, tudo que fosse possível para ser feliz.

Porém, como haveriam de fazer tudo isso, se não tinham dinheiro? Decidiram pedir emprestado aos pais, a amigos ou ao banco. Daí surgiu a questão sobre como pagar os empréstimos.

- Se o mundo vai se acabar em 30 dias, não precisaremos pagar! - concluiu Liana.

E foi o que fizeram. Arrumaram empréstimos em bancos e com os pais e trataram de se divertir o quanto podiam. Para começar, Liana desmarcou o casamento, sobre o qual não estava muito certa, pelo menos naquele momento da sua vida. Queria conhecer outras pessoas, outros rapazes, viajar, enfim, aproveitar o que lhe restava de vida.

As três amigas, para espanto de todos, mudaram todos os seus comportamentos e gostaram muito disso. Fizeram excelentes passeios, conheceram pessoas, novas amizades, novos namorados, viagens, compras, enfim, tudo o que tinham vontade, durante 29 dias.

Na noite do 29º dia decidiram permanecer juntas, pois no dia seguinte.

Passaram a noite observando qualquer acontecimento diferente, à espera do momento em que o mundo se acabaria.

O dia amanheceu e nada aconteceu. As horas transcorreram dentro da mais absoluta normalidade e nada de estranho ocorreu.

Muito surpresas, viram chegar a noite do 30º dia, sem novidade. Ocorreu-lhes, então, a idéia de que poderia ter havido um engano.

- Vamos verificar o bilhete da mulher dourada - disse uma das três amigas.

E assim foi feito. De fato, a frase do bilhete não era de que o mundo iria se acabar em 30 dias, como Liana havia lido, transtornada pela emoção do momento, mas sim, em 300 dias.

Ficaram muito felizes ao constatar que ainda tinham mais 270 dias para se divertirem.

- Esperem! Acho que agora estamos com um problema! Já que o mundo não se acabou, teremos de pagar as contas! - disse Liana, assustada.

- É mesmo! O que faremos agora! - responderam as outras duas.

- Vamos pensar com calma e encontraremos uma solução.

Resolveram que cada uma deveria procurar trabalhar naquilo de que mais gostava de fazer e sabia fazer melhor.

Liana gostava de plantas. Terina tinha um talento bastante desenvolvido para vendas. Elisia gostava mesmo era de fazer doces.

Desenvolveram uma espécie de microempresa, nos fundos da casa de uma delas. Lá Liana começou a cultivar várias espécies de flores e a fazer desenhos sugerindo o uso delas. Planejava até aprender a desenvolver sofisticados projetos de jardinagem. Elisia fazia e confeitava bolos ornamentais que, com a prática, ficavam cada vez mais elaborados. Fazia também docinhos, bombons, tortas e pudins deliciosos. A tarefa de vender os produtos da empresa ficava por conta de Terina, que se saía muito bem nesse empreendimento, a tal ponto que quase não davam conta de atender a todas as encomendas.

Com muita dedicação, responsabilidade, confiança em si mesmas e na sua capacidade de trabalho, cada uma das três amigas, apenas dando vazão a seus respectivos talentos, conseguiu pagar, em poucos meses, todos os empréstimos que havia feito de terceiros.

Gostaram tanto dessa experiência que continuaram em atividade. Enquanto trabalhavam estavam se divertindo e seus negócios crescendo na mesma proporção de seu entusiasmo.

Até que, finalmente, chegou o 299º dia.

Elas até ficaram um pouco tristes, pois esses últimos dez meses haviam sido os melhores de suas vidas, tanto em diversões, descobertas de seu próprio potencial, encontros com suas capacidades, autoconfiança e muitos outros recursos que nem sequer imaginavam ter.

Reuniram-se novamente, como naquela noite do 29º dia, e aguardaram a chegada do fim do mundo. Conversaram muito. Fizeram um balanço e concluíram o quanto tinha sido proveitoso acreditarem em si mesmas. Agradeceram a Deus a oportunidade que tiveram de desenvolver todas suas potencialidades e talentos, os quais elas nem mesmo conheciam. Quando o mundo se acabasse, afinal elas podiam dizer que foram felizes e que viver, realmente, tinha valido a pena.

E, NO 300º DIA...

O mundo não se acabou!!!

Quem, na vida, se iludir com sonhos mirabolantes, planos fantasiosos ou qualquer tipo de ilusão, fatalmente será obrigado a pagar o devido preço pela sua ingenuidade ou pela sua irresponsabilidade.

Isto é apenas uma história, porém capaz de lembrar que, quando alguém se dispõe a assumir a responsabilidade pela própria qualidade de vida, tem a chance de se deparar com capacidades suas, até então desconhecidas.

Ao invés de esperar um empurrão da Vida, como aconteceu com as garotas, acredito que seja possível para qualquer pessoa começar, a partir de já, a entrar em contato com essas capacidades que certamente estão guardadas dentro de cada um, à espera de serem mostradas.

E para que haja alguma mudança na vida basta que se faça algo novo. Continuar com os mesmos comportamentos, só trará os mesmos resultados de sempre.

E você, o que faria se tivesse apenas 30 dias para ser feliz? E se fossem 300?

O Pãozinho

Há muitos anos, houve uma grande fome na Alemanha, e os pobres sofriam muito. Um homem rico, que amava crianças, chamou vinte delas e disse:

- Nesta cesta há um pão para cada um de vocês. Peguem e voltem todos os dias, até passar esta época de fome. Vou lhes dar um pão por dia.

As crianças estavam esfomeadas. Partiram para cima da cesta e brigaram pelos maiores pães. Nem se lembraram de agradecer ao homem que tivera tanta bondade com elas. Após alguns minutos de briga e avanço nos pães, todos foram embora correndo, cada um com seu pão, exceto uma menininha chamada Gretchen. Ela ficou lá sozinha, a pequena distância do homem. Então, sorrindo, ela pegou o último pão, o menor de todos, e agradeceu de coração.

No dia seguinte, as crianças voltaram e se comportaram pior do que nunca. Gretchen, que não entrava nos empurrões, ficou só com um pãozinho bem fininho, nem metade do tamanho dos outros. Porém quando chegou em casa e a mãe foi cortar o pãozinho, caíram de dentro dele seis moedas bem brilhantes de prata.

- Oh, Gretchen! - exclamou a mãe. - Deve haver algum engano. Esse dinheiro não nos pertence. Corra o mais rápido que puder e devolva-o ao cavalheiro!

E Gretchen correu para devolver, mas, quando deu o recado da mãe, o senhor lhe disse:

- Não foi engano nenhum. Eu mandei cozinhar as moedas no menor dos pães, para recompensar você. Lembre-se de que as pessoas que preferem se contentar com o menor pedaço, em vez de brigar pelo maior, vão encontrar muitas bênçãos bem maiores do que dinheiro dentro da comida.

O Pastor e o Asno

Um Pastor observava tranqüilo seu Asno pastando em uma verde pradaria.

De repente, ouviu ao longe os gritos do inimigo que se aproximava.

Ele rogou ao animal para que corresse com ele na garupa, o mais rápido que pudesse, a fim de que não fossem ambos capturados. O Asno com calma, falou:

- Por que eu deveria temer o inimigo? Você acha provável que o conquistador coloque em mim, além dos dois cestos de carga que carrego, outros dois?

- Não, respondeu o Pastor.

- Então - disse o animal - contanto que eu carregue os dois cestos que já possuo, que diferença faz a quem estou servindo?

Ao mudar o governante, para o pobre, nada muda além do nome do seu novo senhor.

domingo, 14 de março de 2010

O Pêlo do Leão

Numa aldeia nas montanhas da Etiópia, um rapaz e uma moça se apaixonaram e se casaram. Por algum tempo foram perfeitamente felizes, mas então os problemas chegaram à casa deles. Começaram a ver os erros um do outro nas pequenas coisas - ele a acusava de gastar muito no mercado, ela o acusava de estar sempre atrasado. Não se passava um dia sem uma discussão sobre dinheiro, sobre trabalho doméstico, sobre amigos. Às vezes ficavam tão bravos que gritavam, berravam impropérios e iam para a cama sem se falar, o que só piorava as coisas.

Depois de alguns meses ele achou que não agüentava mais aquilo e procurou um juiz velho e sábio para pedir o divórcio.

- Por quê? - perguntou ele. - Há menos de um ano que se casaram. Não ama seu marido?

- Sim, nós nos amamos, mas as coisas não vão nada bem.

- Como assim, não vão nada bem?

- Ah, brigamos muito, ele faz coisas que me irritam. Deixa roupas espalhadas pela casa toda, corta as unhas do pé na sala e deixa pelo chão, chega tarde em casa. Sempre que eu quero fazer alguma coisa, ele quer fazer outra. Não podemos viver juntos.

- Entendo - disse o velho juiz. - Talvez eu possa ajudar. Conheço um remédio mágico que vai fazer vocês se darem muito melhor. Se eu lhe der esse remédio, vai parar de pensar em divórcio?

- Claro! Gritou ela. - Qual é o remédio? Me dê!

- Calma - disse o juiz. - Para fazer o remédio preciso de um fio da cauda de um grande leão que vive perto do rio. Tem que trazer esse fio para mim.

- Mas como vou conseguir isso? - exclamou a mulher. - O leão vai me matar!

- Nisso não posso ajudar - disse o velho, abanando a cabeça. - Entendo muito de remédios, mas não entendo nada de leões. Você tem que descobrir um meio. Vai tentar?

A jovem esposa refletiu longamente. Amava muito o marido, e o remédio ia salvar seu casamento. Resolveu buscar o pêlo do leão.

Na manhã seguinte, foi ao rio e se escondeu atrás de uma pedra. Pouco tempo depois, o leão veio beber água. Quando viu as patas enormes, ela ficou tremendo de medo. O leão abriu a boca, mostrando os dentes afiados, e ela quase desmaiou. Então o leão deu um rugido e ela saiu correndo para casa.

Mas na manhã seguinte ela voltou ao rio, trazendo um saco de carne fresca. Deixou a carne no capim da margem, a duzentos metros do leão, e ficou escondida atrás da pedra enquanto ele comia.

No dia seguinte, voltou e pôs o pedaço de carne a cem metros do leão; no outro dia, pôs a carne a cinqüenta metros do leão e não se escondeu enquanto ele comia.

Assim a cada dia chegava mais perto do leão, até que um dia chegou tão perto que pôde atirar-lhe a carne na boca. No outro dia, o leão veio comer em sua mão. Tremia ao ver os dentes enormes rasgando a carne, mas tinha mais amor ao marido do que medo do leão. Muito lentamente, ela abaixou-se e arrancou um fio do pêlo da cauda da fera.

Voltou correndo ao juiz.

- Olhe! - gritou ela. - Trouxe um pêlo do leão!

O velho pegou o fio e examinou atentamente.

- Foi muita coragem sua - disse ele. - E precisou de muita paciência, não?

- Ah, sim - disse ela. - Agora me dê o remédio para salvar meu casamento!

O velho juiz abanou a cabeça.

- Não tenho mais nada a lhe dar.

- Mas o senhor prometeu! - exclamou a jovem esposa.

- Então não vê? - perguntou ele com carinho. - Já tem o remédio de que precisa. Você estava decidida a fazer o que fosse preciso, por mais que demorasse, para ter o remédio mágico para seus problemas. Mas mágica não existe. Só existe a sua determinação. Você e seu marido se amam. Se os dois tiverem a paciência, a determinação e a coragem que você demonstrou para trazer esse pêlo do leão, serão muito felizes. Pense nisso.

E a mulher voltou para casa, com novas resoluções.

O Vendedor de balões

Era uma vez um velho homem que vendia balões numa quermesse.

Evidentemente, o homem era um bom vendedor, pois deixou um balão vermelho soltar-se e elevar-se nos ares, atraindo, desse modo, uma multidão de jovens compradores de balões.

Havia ali perto um menino negro.

Estava observando o vendedor e, é claro apreciando os balões.

Depois de ter soltado o balão vermelho, o homem soltou um azul, depois um amarelo e finalmente um branco.

Todos foram subindo até sumirem de vista.

O menino, de olhar atento, seguia a cada um. Ficava imaginando mil coisas...

Uma coisa o aborrecia, o homem não soltava o balão preto. Então aproximou-se do vendedor e lhe perguntou:

- Moço, se o senhor soltasse o balão preto, ele subiria tanto quanto os outros?

O vendedor de balões sorriu compreensivamente para o menino, arrebentou a linha que prendia o balão preto e enquanto ele se elevava nos ares disse:

- Não é a cor, filho, é o que está dentro dele que o faz subir.

O que é realmente importante?

Numa aula de Filosofia, o Professor queria demonstrar um conceito aos seus alunos. Para tanto, ele pegou um vaso de boca larga e dentro colocou, primeiramente, algumas pedras grandes. Então perguntou a classe:

- Está cheio?

Pelo que viam, o vaso estava repleto, por isso, os alunos, unanimemente responderam:

- Sim!

O professor então pegou um balde de pedregulhos e virou dentro do vaso. Os pequenos pedregulhos se alojaram nos espaços entre as pedras grandes. Então ele perguntou aos alunos:

- E agora, está cheio?

Desta vez, alguns estavam hesitantes, mas a maioria respondeu:

- Sim!

Continuando, o professor levantou uma lata de areia e começou a derramar a areia dentro do vaso. A areia preencheu os espaços entre as pedras e os pedregulhos.

E, pela terceira vez, o professor perguntou:

- Então, está cheio?

Agora, a maioria dos alunos estava receosa, mas, novamente muitos responderam:

- Sim!

Finalmente, o professor pegou um jarro com água e despejou o líquido dentro do vaso. A água encharcou e saturou a areia. Neste ponto, o professor perguntou para a classe:

- Qual o objetivo desta demonstração?

Um jovem e "brilhante" aluno levantou a mão e respondeu:

- Não importa quanto a "agenda" da vida de alguém esteja cheia, ele sempre conseguira "espremer" dentro, mais coisas!

- Não exatamente! Respondeu o professor.

- O ponto é o seguinte: A menos que você, em primeiro lugar, coloque as pedras grandes dentro do vaso, nunca mais conseguirá colocá-las lá dentro. Vamos! Experimente, disse o professor ao aluno, entregando-lhe outro vaso igual ao primeiro, com a mesma quantidade de pedras grandes, de pedregulhos, de areia e de água.

O aluno, começou a experiência, colocando a água, depois a areia, depois os pedregulhos e por último, tentou colocar as pedras grandes. Verificou, surpreso, que elas não couberam no vaso. Ele já estava repleto com as coisas menores. Então, o professor explicou para o rapaz:

- As pedras grandes são as coisas realmente importantes de sua vida: seu crescimento pessoal e espiritual. Quando você dá prioridade a isso e mantém-se "aberto" para o novo, as demais coisas se ajustarão por si só: seus relacionamentos (família, amigos), suas obrigações (profissão, afazeres), seus bens e direitos materiais e todas as demais coisas menores que completam a vida. Mas, se você preencher sua vida somente com as coisas pequenas, então aquelas que são realmente importantes, nunca terão espaço em sua vida. Recomece, é uma boa sugestão. Esvazie seus vasos (mental, emocional) e comece a preenchê-los com as pedras grandes. "Ainda há tempo e ainda é tempo.

Sempre é tempo de mudar as coisas.

Senhor Palha

Era uma vez, há muitos e muitos anos atrás, é claro, porque as melhores histórias sempre se passam há muitos e muitos anos, um homem chamado Senhor Palha. Ele não tinha casa, nem mulher, nem filhos. para dizer a verdade, só tinha a roupa do corpo. Pois o Senhor Palha não tinha sorte. Era tão pobre que mal tinha o que comer e era magrinho como um fiapo de palha. Por isso é que as pessoas o chamavam de Senhor Palha.

Todo dia o Senhor Palha ia ao templo pedir à Deusa da Fortuna para melhorar sua sorte, e nada acontecia. Até que um dia, ele ouviu uma voz sussurrar: - "A primeira coisa que você tocar quando sair do templo lhe trará grande fortuna." O Senhor Palha levou um susto. Esfregou os olhos, olhou em volta, mas viu que estava bem acordado e o templo estava vazio. Mesmo assim, saiu pensando: "Eu sonhei ou foi a Deusa da Fortuna que falou comigo?" Na dúvida, correu para fora do templo, ao encontro da sorte.

Mas na pressa, o pobre Senhor Palha tropeçou nos degraus e foi rolando aos trambolhões até o final da escada, onde caiu na terra. Ao se pôr de pé, ajeitou as roupas e percebeu que tinha alguma coisa na mão.
Era um fiapo de palha.

"Bom", pensou ele, "um fiapo de palha não vale nada, mas, se a Deusa da Fortuna quis que eu pegasse, é melhor guardar."

E lá foi ele, segurando o fiapo de palha.

Pouco depois apareceu uma libélula zumbindo em volta da cabeça dele. Tentou espantá-la, mas não adiantou. A libélula zumbia loucamente ao redor da cabeça dele.

"Muito bem", pensou ele. "Se não quer ir embora, fique comigo."

Apanhou a libélula e amarrou o fiapo de palha no rabinho dela. Ficou parecendo uma pequena pipa, e ele continuou descendo a rua com a libélula no fiapo.

Logo encontrou uma florista com o filhinho, a caminho do mercado, onde iam vender flores. Vinham de muito longe. O menino estava cansado, suado, e a poeira lhe trazia lágrimas aos olhos. Mas quando o menino viu a libélula zumbindo amarrada no fiapo de palha, seu rostinho se animou.

- Mãe, me dá uma libélula? - pediu. - Por favor!

"Bom", pensou o Senhor Palha, "a Deusa da Fortuna me disse que o fiapo de palha traria sorte. mas esse garotinho está tão cansado, tão suado, que pode ficar mais feliz com um presentinho". E deu a libélula no fiapo para o garoto.

- É muita bondade sua - disse a florista. - Não tenho nada para lhe da dar em troca além de uma rosa. Aceita?

O Senhor Palha agradeceu e continuou seu caminho, levando a rosa.

Andou mais um pouco e viu um jovem sentado num toco de árvore, segurando a cabeça entre as mãos. Parecia tão infeliz que o Senhor Palha lhe perguntou o que havia acontecido.

- Vou pedir minha namorada em casamento hoje à noite - queixou-se o rapaz. - Mas sou tão pobre que não tenho nada para dar a ela.

- Bom, também sou pobre - disse o Senhor Palha. - Não tenho nada de valor, mas se quiser dar a ela esta rosa, é sua.

O rosto do rapaz se abriu num sorriso ao ver esplêndida rosa.

- Fique com essas três laranjas, por favor - disse o jovem. - É só o que posso dar em troca.

O Senhor Palha seguiu andando, carregando três suculentas laranjas.

Logo encontrou um mascate, ofegante. - Estou puxando a carrocinha o dia inteiro e estou com tanta sede que acho que vou desmaiar. Preciso de um gole de água.

- Acho que não tem nem um poço por aqui - disse o Senhor Palha - Mas se quiser pode chupar estas três laranjas.

O mascate ficou tão grato que pegou um rolo da mais fina seda que havia na carroça e deu-o ao Senhor Palha, dizendo:

- O senhor é muito bondoso. Por favor, aceite esta seda em troca.

E o Senhor Palha mais uma vez seguiu pela rua, como rolo de seda debaixo do braço.

Não deu dez passos e viu passar uma princesa numa carruagem. Tinha um olhar preocupado, mas sua expressão logo se alegrou ao ver o Senhor Palha.

- Onde arrumou essa seda? - gritou ela. - É justamente o que estou procurando. Hoje é aniversário de meu pai e quero dar um quimono real para ele.

- Bom, já que é aniversário dele, tenho prazer em lhe dar essa seda - disse o Senhor Palha. A princesa mal podia acreditar em tamanha sorte.

- O senhor é muito generoso - disse sorrindo. - Por favor, aceite esta jóia em troca.

A carruagem se afastou, deixando o Senhor Palha segurando a jóia de inestimável valor refulgindo à luz do sol.

"Muito bem", pensou ele, "comecei com um fiapo de palha que não valia nada e agora tenho uma jóia. Acho que está bom."

Levou a jóia ao mercado, vendeu-a e, com o dinheiro, comprou uma plantação de arroz. Trabalhou muito, arou, semeou, colheu, e a cada ano a plantação produzia mais arroz. Em pouco tempo, o Senhor Palha ficou rico.

Mas a riqueza não o modificou. Sempre ofereceu arroz aos que tinham fome e ajudava a todos que o procuravam. Diziam que sua sorte tinha começado com um fiapo de palha, mas quem sabe foi com a generosidade?

Um som por um perfume

Um pobre viajante parou ao meio-dia para descansar à sombra de uma frondosa árvore. Ele viera de muito longe e sobrara apenas um pedaço de pão para almoçar. Do outro lado da estrada, havia um quiosque com tentadores pastéis e bolos; o viajante se deliciava sentindo as fragrâncias que flutuavam pelo ar, enquanto mascava seu pedacinho de pão dormido.

Ao se levantar para seguir caminho, o padeiro subitamente saiu correndo do quiosque, atravessou a estrada e agarrou-o pelo colarinho.

- Espere aí! - gritou o padeiro. - Você tem que pagar pelos bolos!

- Que é isso? - protestou o espantado viajante. - Eu nem encostei nos seus bolos!

- Seu ladrão! - berrava o padeiro. - É perfeitamente óbvio que você aproveitou seu próprio pão dormido bem melhor, só sentindo os cheirinhos deliciosos da minha padaria. Você não sai daqui enquanto não me pagar pelo que levou. Eu não trabalho à toa não, camarada!

Uma multidão se juntou e instou para que levasse o caso ao juiz local, um velho muito sábio. O juiz ouviu os argumentos, pensou bastante e depois ditou a sentença.

- Você está certo - disse ao padeiro. - Este viajante saboreou os frutos do seu trabalho. E julgo que o perfume dos seus bolos vale três moedas de ouro.

- Isso é um absurdo! Objetou o viajante. - Além disso, gastei meu dinheiro todo na viagem. Não tenho mais nem um centavo.

- Ah... - disse o juiz. - Neste caso, vou ajudá-lo.

Tirou três moedas de ouro do próprio bolso, e o padeiro logo avançou para pegar.

- Ainda não - disse o juiz. - Você diz que esse viajante meramente sentiu o cheiro dos seus bolos, não é?

- É isso mesmo - respondeu o padeiro.

- Mas ele não engoliu nem um pedacinho?

- Já lhe disse que não.

- Nem provou nem um pastel?

- Não!

- Nem encostou nas tortas?

- Não!

- Então, já que ele consumiu apenas o perfume, você será pago apenas com som. Abra os ouvidos para receber o que você merece.

O sábio juiz jogou as moedas de uma mão para outra, fazendo-as retinir bem perto das gananciosas orelhas do padeiro.

- Se ao menos você tivesse a bondade de ajudar esse pobre homem em viagem - disse o juiz -, você até ganharia recompensas em ouro, no Céu.

Woo Sing e o Espelho

Um dia, o pai de Woo Sing chegou em casa com um espelho trazido da cidade grande.

Woo Sing nunca vira um espelho na vida. Dependuraram-no na sala enquanto ele estava brincando lá fora; quando voltou, não compreendeu o que era aquilo, pensando estar na presença de outro menino.

Ficou muito alegre, achando que o menino viera brincar com ele.

Ele falou muito amigavelmente com o desconhecido, mas não teve resposta.

Riu e acenou para o menino no vidro, que fazia a mesma coisa, exatamente da mesma maneira.

Então, Woo Sing pensou: "Vou chegar mais perto. Pode ser que ele não esteja me escutando." Mas quando começou a andar, o outro menino logo o imitou.

Woo Sing estacou e ficou pensando nesse estranho comportamento. E disse para si mesmo:

"Esse menino está zombando de mim; faz tudo o que eu faço!"

E quanto mais pensava, mais zangado ficava. E logo reparou que o menino estava zangado também.

Isso acabou de exasperar Woo Sing! Deu um tapa no menino, mas só conseguiu machucar a mão, e foi chorando até seu pai. Este lhe disse:

- O menino que você viu era a sua própria imagem. Isso deve ensinar você uma importante lição, meu filho. Tente não perder a cabeça com as outras pessoas. Você bateu no menino no vidro e só conseguiu machucar a si mesmo.

"E lembre-se: na vida real, quando você agride sem motivo, o mais magoado é você mesmo."

A mente humana

A mente humana grava e executa tudo que lhe é enviado, seja através de palavras, pensamentos ou atos, seus ou de terceiros, sejam positivos ou negativos, basta que você aceite-os. Essa ação sempre acontecerá, independente se traga ou não resultados positivos para você. 


Um cientista queria provar essa teoria.

Precisava de um voluntário que chegasse às últimas consequências. Conseguiu um em uma penitenciaria.

Era um condenado à morte que seria executado na cadeira elétrica e propôs a ele o seguinte:
"Participaria de uma experiência científica, na qual seria feito um pequeno corte em seu pulso, o suficiente para gotejar seu sangue até a gota final."

Ele teria uma chance de sobreviver, caso o sangue coagulasse.

Se isso acontecesse, seria libertado; caso contrário, faleceria pela perda do sangue. Porém, teria uma morte sem sofrimento e sem dor.

O condenado aceitou, pois era preferível desse jeito à morrer na cadeira elétrica e ainda teria uma chance de sobreviver.

O condenado foi colocado em uma cama alta, dessas de hospital e amarram seu corpo para que não se movesse. Vendaram seus olhos e fizeram um pequeno corte em seu pulso. Abaixo do pulso, foi colocada uma pequena vasilha de alumínio.

Foi dito ao condenado que ouviria o gotejar do sangue na vasilha.

O corte foi superficial e não atingiu nenhuma artéria ou veia, mas foi o suficiente para sentisse que seu pulso fora cortado. Sem que ele soubesse, debaixo da cama, tinha um frasco de soro com uma pequena válvula. Ao cortarem o pulso, abriram a válvula do frasco para que acreditasse que era o sangue dele que estava caindo na vasilha de alumínio.

Na verdade, era o soro do frasco que gotejava!

De dez em dez minutos, o cientista, sem que o condenado visse, fechava um pouco a válvula do frasco e o gotejamento diminuía.

O condenado acreditava que era seu sangue que diminuía. Com o passar do tempo, foi perdendo a cor e ficando mais pálido.

Quando o cientista fechou por completo a válvula, o condenado teve uma parada cardíaca e faleceu, sem ter perdido sequer uma gota de sangue!

O cientista conseguiu provar que a mente humana cumpre, exatamente, tudo que é enviado e aceito pelo seu hospedeiro, seja positivo ou negativo e que sua ação envolve todo o organismo, quer seja na parte orgânica ou psíquica.

Essa história é um pouco triste, mas é um alerta para filtramos o que enviamos para nossa mente, pois ela não distingue o real da fantasia, o certo do errado; simplesmente grava e cumpre o que é enviado.

Quem pensa em fracassar, já fracassou mesmo antes de tentar.

Somos o que pensamos e acreditamos ser!